outras criações de abril
zoom na foto para gotas de chuva brilhantes
penso na atenção também como forma de me encontrar com a alegria.
aqui neste momento
sinto meu corpo pesado, mas pouco sólido. ainda estou pensando em alegria e em tristeza.
a alegria pode encher salões. a dor da perda é pano torcido dentro do peito ou coisa assim.
tento lembrar que o sofrimento é uma parte comum da existência humana. e a forma que ele toma em cada existência distinta é um mistério.
hoje ouvi pela primeira vez patti smith cantando que everybody hurts, sometimes. sometimes everything is wrong.
penso que, como a atenção, o sofrimento é capaz de movimentar a arquitetura da percepção, criar um tempo-espaço à parte para quem sofre.
considero com que meios e motivos seria possível criar uma ponte do meu sofrimento-tempo-espaço para aquele que o outro habita. de que seriam feitas pontes assim.
que capacidades da percepção e que inteligências corporais precisaria acessar para compreender melhor um sofrimento coletivo.
todo mundo sofre.
questiono se há uma hierarquia de ações na tentativa de acalmar dores. repito para mim que a escrita é possível como ferramenta de cuidado.
fantasio sobre usar a atenção para me encontrar com a alegria no meio do sofrimento, aqui e agora, enquanto inventamos essas impossíveis pontes.
considero como materializar urgência e paciência em ação. como fazer isso com equilíbrio.
mas
não consigo apressar as respostas.
todos esses pensamentos existem por enquanto num lugar muito dentro, muito quieto. dormentes, vivos.
desejos e convites
exercitar a atenção ao corpo.
alinhar-me com o ritmo de um dia nublado. recolhido, úmido, expectante.
cultivar outro tempo que entenda a quietude.
uma prece para maio
a superfície é vazia
o outono vai para dentro
para dentro para dentro
e para dentro encontra
uma quietude dormente
terra escura em silêncio
onde talvez confundiria
repouso com paralisia
imóvel o corpo alcança
certo entendimento cíclico
afasta paciente o delírio
de ápice definitivo
e com sorte não ignora
um tempo de outros tempos
possíveis apenas no vértice
inferior e mais íntimo
do gesto insistente da espera