aqui neste momento
de onde estou vejo verde, folhas, chuva. ouço pássaros e sons de construção. cheiro de café e umidade. uma respiração profunda o suficiente para caber tudo isso.
dentro percebo desordem.
acho que o ano passado - 2020 - foi tão agitado de pequenos e grandes acontecimentos em meu espaço imediato que a materialidade do que estamos vivendo ainda não tinha atingido o meu corpo. agora está aqui muito presente.
escrevo para desvendar algo que ainda não sei e que vem agora muitas vezes nessa forma difusa de inquietação.
o que quer que seja, imagino que estou sempre vislumbrando apenas parte, a fração que se ilumina, de uma verdade interna, intocável.
talvez seja muito maior do que consigo mensurar agora, talvez não.
na dúvida, abro espaço. tempo. observo o que surge.
ando pensando em um trecho que li, sobre como a única forma de querer cuidar do mundo é tendo a oportunidade de primeiro amá-lo. talvez seja o mesmo com pessoas e com muito mais.
e amar pede olhar de forma atenta e honesta, as partes agradáveis e as terríveis. cultivar um tempo-espaço em que todas consigam conviver sem achatamento.
quem sabe nem antecipar o que vai aparecer, só cultivar esta abertura. observar pacientemente. atentamente.
como algo delicado que nasce.
desejos e convites
alinhar-me com a impermanência e com a sabedoria do todo.
conviver com caminhos racionais-não-racionais de tomar decisões.
sempre cultivar os atributos da atenção e da honestidade.
buscar mais curiosidade que rigidez.
uma prece para abril
o início pede urgência e paciência
mesmo que o medo queime o cotidiano
numa paralisia que se impõe luz branca
ofuscando o olhar incauto
de quem espera a calmaria de volta
a angústia irá se estirar dos mais furtivos modos
que exista então sabedoria para aprender
a rota justa para transpor o momento
não é senão através, observar sem piscar
os dolorosos desvios escolhas espaços renúncias
e a solidão dos que estão ao lado
conviver com o desconforto sobretudo quando
como o tempo, a tristeza permanece suspensa
ampla e implacável sobre as nossas cabeças
outras preces
aqui mora a possibilidade de descobrir mais criações em abril.
(lembrar: é possível explorar o silêncio)