outras criações de junho
escondidos fios brancos
dentro e fora, junho foi um mês sujo. e também foi o mês do meu aniversário.
pouco criei. tenho margeado coisas encobertas.
aqui neste momento
está úmido e chove. há menos ruídos hoje.
a impressão que tenho é de que aqui existe um chiado constante, um zumzum que se perde no meio dos barulhos dos dias. sei que ele está ali por debaixo de tudo.
persistente, enjoativo. fico tentando decifrá-lo.
ainda estou pensando em fluidez e sorrisos antes do previsto. estão distantes.
acessar este lado é um exercício de equilíbrio.
a realidade estica a corda, e do outro lado há algo sufocado.
por baixo de pensamentos, notícias, barulhos — um zumbido.
persistente e enjoativo.
penso em coisas enterradas, fundas. penso no esgoto e no mistério do que preferimos não ver. penso no que prolifera longe da percepção.
o coração, um mapa para me encontrar com o que está escondido.
pergunta:
o que há aqui que eu não quero sentir?
desejos e convites
sentidos apurados para o que está encoberto
uma prece para julho
a valsa dos dias
se alonga e repete
delicadezas maçantes
suporte o quieto
zumbido cotidiano
espuma na praia
desbotadas estrelas
contornos disformes
na névoa da raiva
o horizonte é mudo
a máquina rumina
na marcha é perdido
da mágica o ritmo
a mente de pêndulo
bate as horas e cansa
contamina o silêncio
e entorpece, enquanto
no fundo algo pulsa
no fundo algo chama
no fundo há o que ferve
e desafia o mergulho